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Rita Marques

Co-Fundadora e CEO da ImpacTrip

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Behind Business  (BB) - O que significa ser empreendedor?

Eu não sou nada demagoga. Sou muito prática. Ser empreendedor significa ser chato. É verdade quando se diz que um empreendedor tem de ser persistente. É preciso ser chato quando, por exemplo, os primeiros clientes dizem que não; é preciso ser chato quando o investidores dizem que podemos marcar a reunião só para a semana… Ser empreendedor é ser chato, basicamente. Além disso, também tem de ser apaixonado. De facto, a maioria dos clichés que se diz sobre o empreendedorismo são verdade. O nosso projecto é como se fosse o nosso bebé, que é o mais lindo de todos e que leva muito mimo de nós. O empreendedor é um completo apaixonado pelo que faz. Tem de gostar tanto do projecto como gosta da família, namorados, namoradas, etc. Os primeiros anos são muito dolorosos, em termos físicos, em termos psicológicos, emocionais, monetários…

Há quanto tempo estás nesta vida de empreendedorismo?

Acho que desde 2013. Estive na Malásia nesse ano, onde trabalhei numa empresa do género de uma Venture Capital, onde percebi que montar um projecto não era só para milionários. Depois trabalhei um pouco em consultoria. Achei aquilo muito chato e comecei a trabalhar no meu próprio projecto enquanto estava ainda a trabalhar nessa área. Passou um ano e meio e em 2015 registámos a empresa.

Quais é que são os aspectos positivos e negativos de seres empreendedora?

O negativo é que dá um trabalho descomunal. Nós trabalhamos 80 horas por semana por nossa conta para não trabalhar 40 por conta de outrem. Não acredito que algum “não empreendedor” trabalhe mais do que um empreendedor. Claramente as horas de trabalho é um aspecto negativo, mesmo que não custe assim tanto porque, lá está, é o nosso bebé.

A expressão “quem corre por gosto não se cansa” não se aplica aqui?

É claro que custa um bocadinho.  São horas que não se está com os amigos, com o namorado e essas coisas, e eu também gosto de dormir. É sempre preciso haver um compromisso e há coisas que temos de começar a fazer menos. .

"Nós temos um impacto muito positivo na vida de pessoas desfavorecidas que de outra maneira não teriam as condições de vida que têm hoje."

E a parte positiva?

A parte positiva é  que realmente é o nosso bebé.  Eu ainda estou apaixonada, mesmo ao fim de alguns anos. É um bebé que cresce, que se desenvolve; é um bebé que vai tendo mais pais (as pessoas que foram chegando à empresa), que também o querem criar para que seja um bebé bonito não só aos nossos olhos mas aos olhos dos outros.  Essa é a parte boa, a de criarmos uma coisa que funciona, que faz sentido, que cria valor e, no caso específico do que nós fazemos, muda a vida de muita gente. Temos um impacto muito positivo na vida de pessoas desfavorecidas que de outra maneira não teriam as condições de vida que têm hoje.  Isso é o que nos move a trabalhar as 1000 horas por dia, e é isto que nos faz viver com orgulho o que fazemos.

Eu acredito que um negócio que não tiver, na sua génese, alguma componente de  caráter social, não terá lugar numa sociedade de futuro. Concordas?

Acredito plenamente que, no futuro, todos os negócios irão ser sociais, simplesmente porque as pessoas assim o irão exigir. As pessoas irão cada vez mais esperar que as empresa contribuam para a sociedade, já que por vezes também tiram muito dela. Por isso será esperado que dêem algo em troca.

Qual é o impacto que pretendes ter no mundo com as tuas iniciativas empreendedoras?

A nível de empresa, eu espero criar emprego e novos desafios para que a minha equipa esteja feliz a fazer o que faz. Trabalha-se muitas horas na ImpacTrip, é verdade, mas tanto eu como o Diogo, o meu sócio, fazemos questão que a equipa esteja feliz - acredito mesmo que os elementos da equipa são felizes a desempenhar a sua função na organização. É muito importante para mim sentir que se sentem bem e que aprendem coisas novas na empresa. Em segundo lugar, em relação ao que fazemos, espero continuar a fazer a diferença não só nos nossos clientes mas também na comunidade. Por exemplo, alguns dos nossos clientes já criaram programas de voluntariado, alguns foram estudar mais sobre áreas relacionadas com a sustentabilidade, outros criaram organizações sociais. Acho que o impacto é este, de marcar positivamente os nossos clientes e deixar uma marca positiva nos projectos onde eles passam.

Conseguirias descrever um dia típico de trabalho na ImpacTrip?

É impossível. Não dá. Todos os dias são diferentes. Ontem abrimos a ImpacTrip de Barcelona. Há pouco tempo abrimos um hostel, a Impact House, que é o hostel mais sustentável de Portugal. Agora com o ImpacTrip Barcelona, deixei a gestão da empresa em Portugal ao cargo de uma colaboradora nossa, e passei a estar mais ligada ao desenvolvimento do negócio internacional. Por isso é muito variável. As minhas tarefas tanto podem passar por coisas mais chatas, como contabilidade, até trabalhar no conceito de um possível Impact House 2.0, ou tentar encontrar mais parceiros sociais, ou criar mais programas de voluntariado, para dar alguns exemplos.

O que te inspirou para criares a ImpacTrip?

Começou com uma ideia enquanto viajava pelo Sudoeste Asiático. Depois de trabalhar na Malásia, em Kuala-Lumpur, despedi-me e fui viajar um mês pelo sudoeste asiático. Por lá vi que muitas pessoas estavam a fazer o mesmo que eu: a conhecer os locais, a perceber como é a cultura local, a ir além do check-list típico dos roteiros turísticos, e descobri que o voluntariado era a melhor forma de conhecer a realidade de um país. Gostei do conceito mas gostaria de o aplicar dentro do meu país. Depois de pesquisar, vi que em Portugal não havia nada do género e por isso comecei a trabalhar na ideia com o Diogo.

Achas que o facto de teres uma empresa mais ligada ao impacto social tem muito a haver com os teus valores ou achas que as coisas simplesmente foram acontecendo?

Acho que foi um misto dos dois, embora tenha muito a haver com os meus valores. Quando era miúda e adolescente, diziam-me coisas do género “Sim sim, agora és assim mas quando fores grande vais perceber como é a vida” ou “Tu vais ser aquela idealista incurável”. Eu cresci mas não deixei de ter os valores e as ideias, algumas mais parvas que outras. Tem muito a haver comigo. Sempre fiz voluntariado, fui escuteira, quando tinha 10 anos já estava a espalhar e fixar panfletos nos contentores de lixo normais a avisar as pessoas que existia contentores de reciclagem ali mesmo ao lado. Acho que consigo fazer a diferença ao meu jeito.

 

O que é que te inspira para continuares a sorrir todos os dias?

É o que vem de dentro e de fora. Tenho uma equipa brutal, gosto imenso deles, gosto muito de receber as opiniões que o pessoal dá e da liberdade dentro da empresa. E gosto imenso de trabalhar. Gosto muito da liberdade que ser trabalhadora por conta própria, de ter o meu próprio negócio, me dá, porque tenho a liberdade de desenvolver outras coisas. Por exemplo, no outro dia vi uma senhora sem abrigo à porta da entrada do metro da Baixa-Chiado e lembrei-me que quero muito criar um programa de voluntariado na área dos sem-abrigo - e eu tenho liberdade para o fazer. Obviamente que, consequentemente, tenho muitas responsabilidades, sendo uma delas assegurar a sustentabilidade financeira da empresa, bem como assegurar que existe impacto nos nossos parceiros sociais com os nossos programas.

Não tendo estudos formais na área impacto social ou empreendedorismo de impacto, foi o teu drive que te levou a estar mais ligada à área social? Achas importante as pessoas terem algum conhecimento académico nessa área, ou em alguma relacionada, para poder criar mais impacto?

Eu acho que não é necessário estudar empreendedorismo social nem nada do género. Pode-se estudar gestão e fazer algo na área do impacto social. É claro que acrescenta valor se a pessoa tiver mais conhecimento na área da economia social. No mestrado, eu tive algumas cadeiras sobre empreendedorismo social, simplesmente porque me interessava. Nem pensava em negócios nessa área naquela altura. Não sendo necessário, é claro que educação na área acrescentará valor. Ajuda sempre.

Se alguém viesse ter contigo e dissesse “Eu gostaria de construir algo na área social, como tu fizeste. Por onde é que começo?”, o que é que tu dirias?

“Pensa num problema para resolver e não na solução”, diria eu. Há muita gente que desenvolve a solução e depois vai procurar alguma coisa, algum “problema”, onde essa solução pode ser encaixada. Primeiro pensa-se sobre o que se quer resolver e depois pensa-se na solução que actua nas causas desse problema. Pensar numa solução que resolve um problema e que acrescente valor à sociedade, é o essencial.

Como é que tu geres a incerteza?

Com muita tranquilidade. Senão... estávamos tramados. Há, de facto, muito incerteza, não há volta a dar. Só pensando em estratégias de minimização dos risco. É preciso saber lidar, gerir e tolerar quando não há volta a dar.

Como é que defines "sucesso”?

É… vir a cantar para o trabalhar. Efectivamente eu não gosto de acordar cedo, mas quando o mau humor matinal me passa, eu fico contente por vir trabalhar! Eu adoro ir de férias, claro, mas não tenho nada aquela coisa de, após as férias, de “ah que chatice, agora tenho de ir trabalhar”. Fico feliz quando vejo as pessoas a trabalhar, mesmo que metade do dia seja passado a fazer coisas chatas; fico feliz quando vou para o escritório. Tenho consciência do impacto que o meu trabalho tem na vida de outras pessoas e também por isso venho a cantar para o trabalho. Acho que pode ser uma boa definição de felicidade e de sucesso, porque se passamos tantas horas da nossa vida a trabalhar, se as passarmos com energia negativa em vez de positiva, alguma coisa há-de correr mal.

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