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Nils, CEO Lemonmate

Nils

Co-fundador e CEO da

Why Not Soda

Behind Business - Estou curioso sobre o que te levou a dizer “Por que não?” num mercado tão difícil. Consegues explicar qual foi o teu processo mental?

 

Nils - Bem, há uma longa história pessoal envolvida neste processo, que inclui também Portugal; não foi apenas a ideia do produto. Por isso nem sei bem por onde começar…

Talvez pudesses começar por essa história pessoal…

Tivemos a ideia de criar uma empresa de bebidas cá em Portugal há três anos atrás, mas antes de chegarmos aí… Em 2013 eu e minha esposa fizemos uma pausa do trabalho para viajar. Viajamos à volta do mundo durante seis meses. Depois de voltar a Berlim, tínhamos plantada a semente de querer morar no exterior. Apesar de adorarmos Berlim, já não nos sentíamos em casa. Por isso, depois da nossa primeira filha nascer, tiramos mais uma folga do trabalho em 2016 para passar algum tempo em Portugal. Já tínhamos estado cá várias vezes e adoramos o país e as pessoas. Na verdade, as nossas primeiras férias como casal - devem ter sido em 2010 - foram em Portugal! Foi quando descobrimos a Ericeira, mais ou menos por acidente. Por isso optamos por voltar a Portugal em 2016 para passar algum tempo cá com a nossa filha. Escolhemos morar em Lisboa e na Ericeira. Gostamos imenso e rapidamente nos apercebemos que Portugal era o lugar ideal para nós e decidimos mudar para cá de vez.

A Ericeira fez parte da equação para mudar as vossas vidas?

Nós apaixonamo-nos pela Ericeira! É um lugar encantador - especialmente para uma família com dois filhos pequenos. E foi lá que conhecemos nosso parceiro, Hendrik. Ele também é alemão e vive na Ericeira com a família há algum tempo. Um facto engraçado: eles também moravam em Berlim e morávamos todos no mesmo bairro! Éramos vizinhos, morando a apenas 200 metros um do outro, mas nunca nos encontramos antes! ... Só nos encontramos cá na Ericeira.

Why Not?

"Eu acredito que toda as pessoas têm talento, mas muitas vezes a sociedade dificulta que seja desvendado."

Parece que foi o destino?

 

Às vezes digo isso sobre o nosso negócio! Pode parecer um pouco espiritual, mas eu gosto disso! Tornamo-nos amigos e, porque todos nós gostamos de fazer coisas, começámos a desenvolver ideias juntos. Inicialmente, tivemos uma ideia para um projeto turístico mas, ao mesmo tempo, não queríamos fazer as mesmas coisas que muitos estrangeiros cá fazem. Então pensámos que deveria ser algo diferente. A ideia nasceu porque sentimos que faltava alguma coisa aqui em Portugal que todos gostamos muito. Sempre fomos apreciadores de refrigerante mas nas lojas e cafés não conseguimos encontrar produtos bons e produzidos aqui - apenas os caseiros, mas não os refrigerantes de garrafa. O que descobrimos foi que aqui só existiam as grandes marcas com seus ingredientes artificiais; não havia marcas independentes que usam melhores ingredientes ou que oferecem alguma diversidade. Então começamos a questionar por que razão, um país do sul da Europa que tem frutas deliciosas o tempo todo, não tem este tipo de produto? Entretanto, voltámos à Alemanha no final de 2016, onde consolidámos a ideia.

 

Nos últimos 15 anos, houve uma mudança significativa no mercado de bebidas na Alemanha; até o início de 2000 havia apenas as grandes marcas bem conhecidas. Então, a partir de 2000, mais e mais marcas independentes de bebidas começaram a aparecer. Algumas delas trouxeram bebidas com produtos biológicos para o mercado. Então as grandes marcas começaram a perder parte do mercado. Tendo este desenvolvimento em mente, dissemos: “por que não” fazer algo semelhante aqui em Portugal e trazer alguma variedade para Portugal. Por isso decidimos produzir refrigerante artesanal em Portugal.

 

Nós trabalhamos mais um ano na Alemanha, poupamos tanto quanto pudemos e desenvolvemos o primeiro sabor para a nossa marca Why Not Soda: LEMON'MATE. No final de 2017 tivemos a receita pronta e eu - ainda na Alemanha - comecei a procurar um parceiro em Portugal que pudesse engarrafar as bebidas. Enquanto isso, a minha esposa engravidou novamente.

Então e depois, o que aconteceu?

Então, com uma criança de dois anos e outro bebé acabado de nascer, empacotamos tudo o que tínhamos e mudamo-nos para Portugal! Agora, que falo nisto, parece cansativo - e tem sido desgastante desde então, mas também muito divertido.

Pensaste no conceito todo do produto e nos valores que querias para a tua empresa? Pensaste logo nisso naquela altura?

 

Dissemos para nós mesmos que, se vamos fazer algo na indústria de alimentos e bebidas, deve ser saudável, mas ainda assim delicioso. Definitivamente tem de ser biológico e incorporar práticas sustentáveis. Não se pode apenas criar mais uma empresa que usa aromatizantes artificiais e outros ingredientes artificiais - estamos em 2019 e não 1990. Assim, sabíamos que queríamos ser biológicos desde o início. Para isso, tivemos de procurar produtores biológicos certificados e outros parceiros certificados na cadeia de fornecimento, que compartilhassem os mesmos valores. Encontrei os nossos produtores / parceiros de engarrafamento numa lista de produtores biológicos no site do Ministério da Agricultura de Portugal: Cerveja Vadia. Eles são produtores de cerveja artesanal e também têm uma cerveja biológica certificada no seu portfólio. Escrevi, no meu pobre português, mas eles foram super abertos e amigáveis. Eles têm sido assim desde o começo. Apoiam-nos imenso!

Como foi trabalhar com portugueses?

 

Quando estivemos aqui em 2016, algumas pessoas contaram-me sobre dificuldades nalguns contextos, por causa da língua. Mas desde o início que tentei escrever em português e, além disso, tive muitas aulas de português para aprender a falar. Fiz um esforço para aprender o idioma o mais rápido possível, o que não é fácil, já que o alemão e o português são muito diferentes. No entanto, as experiências com nossos parceiros de negócios são realmente boas. Comecei a bombardear o pessoal da Cerveja Vadia com perguntas sobre a possível produção. Fiz a minha pesquisa e sabia do que estava a falar, mas é claro que não tinha experiência em produzir bebidas. A Cerveja Vadia também não tinha experiência com refrigerantes, mas sabia o que precisava de ser feito e - o mais importante - o que deveria ser possível na sua cervejaria.

Não tiveste medo de ser copiado durante o processo?

Não. O pessoal da Cerveja Vadia foi sempre muito prestável. Eram pessoas muito honestas e muito fixes; decidimos que seguiríamos com o projeto, apertamos a mão uns dos outros e fomos em frente. Às vezes é uma questão de sentimento pessoal. Claro que posso estar errado, mas se confio, confio. Mas deixa-me dizer uma coisa: acho que no final do dia compartilhar o teu conhecimento é sempre melhor. Quando estás disposto a dar, vais receber, mesmo que não seja dessa pessoa. Por exemplo, no programa “From Start to Table” da Startup Lisboa, recebemos muitos bons conselhos de outros empreendedores que estavam no mesmo programa - porque conheciam o país e, por vezes, o mercado. Eu ganhei muito com eles com isso e, embora eu estivesse disposto a compartilhar, naquele momento eu não tinha nada para lhes dar. Mas sei que haverão momentos em que poderei ajudá-los. Mas não é apenas um cálculo económico, que só recebes quando dás; eu acredito que se devem considerar todas as pessoas para a ajuda e amizade valerem a pena. Como ex-aluno de filosofia, acredito em Kant e no seu “imperativo categórico”; no final do dia, tens de te olhar no espelho e ver o tipo de pessoa que és. Tens que lidar com as escolhas que fazes. Se alguém rouba as tuas ideias, essa pessoa tem um problema com a sua imagem no espelho. Eu não tenho problema com o meu. Na verdade, eu estou bem com isso. Resumindo: partilhar é minha filosofia e não vou mudar isso. Mas, como é óbvio, temos sempre alguma segurança, como contratos assinados, acordos de confidencialidade e todas essas coisas.

Que papel achas que tua experiência anterior teve na tua iniciativa empreendedora?

 

Nós pensamos e agimos, organizamo-nos, conversamos com as pessoas, e é isso. Acho que a maioria dessas coisas também já fizemos, mas não tínhamos nenhuma experiência no mercado de bebidas. Por exemplo, estudei Ciências Políticas e Filosofia. Depois, comecei a trabalhar como analista de impacto social de instituições de caridade para uma startup sem fins lucrativos. Mais tarde, tornei-me gestor de projetos numa fundação maior, também no setor sem fins lucrativos. O objetivo era capacitar os jovens para participar na política e sociedade. O empoderamento e a participação humana sempre foram o meu tópico. Eu acredito que toda as pessoas têm talento, mas muitas vezes a sociedade dificulta que seja desvendado. Antes de me mudar para cá, trabalhei numa grande empresa multinacional de transporte e logística. Trabalhei num departamento - um think tank interno - próximo do Departamento de Recursos Humanos. Este departamento foi responsável pela cultura corporativa / desenvolvimento organizacional.

Não era a carreira que querias?  

O nosso impacto dentro de uma empresa tão grande está próximo de zero. Então comecei a ficar frustrado. Eu precisava de algo diferente, onde pudesse ver que faria a diferença. Tive a sensação de que poderia fazer mais do que aquilo que estava a fazer. E também estava cansado de trabalhar apenas para o sucesso de outras pessoas. Assim, combinando as minhas experiências no domínio do impacto social, inovação e desenvolvimento organizacional, com as características da minha personalidade, como uma pessoa que se gosta de divertir, eu disse para mim mesmo: “Eu quero criar um produto porreiro, alegre e de alguma forma sustentável.”

Como vês as tendências do consumidor moldando a sociedade em 10 anos? Os consumidores já estão a pressionar por ter produtos naturais?

 

Humm… quando estudei ciências políticas, aprendi que existem muitas variáveis ​​independentes que afetam o modo como as coisas se  estão a desenvolver. Muitas pessoas dizem que biológico é a tendência e no futuro toda a gente se vai importar com o que consome, porque todos nós seremos mais conscientes e assim por diante. Mas a verdade é que isso também depende de quanto dinheiro as pessoas têm nos bolsos. E não sei como será o desenvolvimento económico em geral.

Uma coisa que eu sei é: infelizmente, é sempre menos caro produzir em grande escala, mas, no passado, “grande escala” teve muitas vezes um impacto negativo no meio ambiente e na sociedade - as chamadas externalidades económicas, e que não estão realmente incluídas nos preços que vemos nas prateleiras. Se fossem, os produtos biológicos locais poderiam ser efetivamente competitivos. Infelizmente, nós tendemos a descobrir ou entender demasiado tarde quais são as externalidades de muitas empresas.

Seria necessário repensar a forma como o preço é feito?

Na minha opinião, os preços dos produtos devem incluir os custos das suas externalidades, que incluem, por exemplo, o impacto que um produto tem sobre a nossa saúde e, a esse respeito, a carga para o nosso sistema de saúde. O mesmo vale para o impacto no meio ambiente. Existem abordagens em termos de impostos, claro, e Portugal está a avançar de uma maneira interessante com o imposto sobre o açúcar. Nós temos de pagar imposto sobre o açúcar porque nossos produtos contêm açúcar! Não quero que as pessoas bebam o nosso refrigerante o dia todo. Refrigerantes com açúcar não são feitos para isso. Eu acredito que não devemos parar de consumir açúcar. Temos que aproveitar algumas coisas, mas devemos ser mais razoáveis. É por isso que tentamos manter a quantidade de açúcar o mais baixo possível nas nossas bebidas e, para a quantidade de açúcar que usamos, achamos que é bom que tenhamos de pagar um imposto sobre o açúcar.

Precisa ser biológico?

 

Ao criar um produto, deves pensar em ser sustentável. Ser biologicamente certificado é apenas o primeiro passo, mas queremos mais. Indo além disso é quando se torna mais difícil por causa dos custos operacionais.

O conceito de ser empreendedor tem muitos riscos associados. Como lidas com a incerteza?

 

Ser pai de dois filhos e lidar com a falta de segurança pode ser complicado. Todos os dias é uma montanha russa de sentimentos. Às vezes olhamos um para o outro, e pensamos “Quem é que teve esta ideia maluca de criar um refrigerante num mercado completamente novo e num país estrangeiro?” Mas tens de acreditar no que estás a fazer, porque se não o fizeres ninguém o faz por ti. E acredito que existe um mercado para o que fazemos. O mais surreal é que estamos a tentar criar um mercado em Portugal que ainda não foi criado. É claro que, de alguma forma, sinto que tenho uma rede de segurança na Alemanha, no sentido de que posso encontrar um emprego lá. Isso, à vezes, é algo que me tranquiliza. Só que, neste momento, não quero morar na Alemanha. Mudamo-nos para cá porque queremos viver cá, de verdade.

Estar preparado para sofrer. Estou a brincar, mas definitivamente há alguma verdade nesta frase: se fosse fácil, toda a gente faria. Estar preparado para ter momentos realmente difíceis. E se és uma pessoa reflexiva como eu, estar preparado para uma verdadeira montanha-russa, porque ser um empreendedor vai desafiar-te todos os dias. É preciso fazer coisas que podes ter pensado que não eras capaz de fazer. Vais ser rejeitado muitas vezes, então tens de lidar com isso. Acho que não deves celebrar cada pequeno sucesso e ao mesmo tempo não exagerar em cada perda. Precisas de encontrar o teu equilíbrio mental. Ser empreendedor não é saber o que fazer o tempo todo; não é como ter uma estratégia que funciona sempre. Deves seguir um plano, é claro, mas também deves ser muito rápido em perceber o que funciona e o que não funciona, rápido na mudança de planos e rápido na execução. Uma dica muito importante que aprendi: no início de um negócio, se tiveres uma boa ideia, muitas oportunidades se revelarão depois. É claro que deves estar aberto para usar essas oportunidades, mas quando estás apenas ocupado a seguir as oportunidades que te são oferecidas em diferentes ocasiões, perdes o foco e estás a “deixar o lugar do condutor”. Mas é isso que querias quando te tornaste um empreendedor, certo ... sentado no banco do condutor... então não o deixes! Nós tivemos que aprender isso também.

Qual seria o teu primeiro conselho para alguém que quer fazer algo como tu? Alguma recomendação que gostarias de compartilhar?

A tua marca reflete quem és e os teus valores? Como é que isso está relacionado com o design da garrafa?

 

Muito do design de produto que se faz ainda está focado em coisas minimalistas, mas acreditamos que um produto deve ser divertido, que tudo não deve ser levado tão a sério. É por isso que escolhemos esse design de arte de rua. O nosso terceiro membro da equipa tem uma ótima imaginação estética. E acreditamos que o minimalismo é superestimado. É por isso que a nossa “coisa” é tão colorida. Na verdade, eu pessoalmente não acredito que os humanos sejam minimalistas. Olha para nós, somos coloridos, somos estranhos, somos diversos, somos difíceis de entender. O mesmo conta para o nosso rótulo.

Achas que ter a tua esposa como parceira de negócios ajuda-te a prosperar e a esforçar mais e mais?

Claro, ela ajuda-me a ir ainda mais além o tempo todo. Ter alguém que confia em ti, que te conduz, que quer tenhas sucesso e sejas feliz, é algo super útil. Ter a minha esposa como parceira de negócios, neste momento da minha vida, facilita a organização da nossa vida em conjunto entre negócios, filhos e parcerias. As pessoas podem pensar que é disparatado montar uma empresa com crianças com esta idade, mas o que as pessoas não percebem é que também seria super desafiador organizar vidas de trabalho ditas “normais”, quando ambos os parceiros querem ter trabalhos desafiadores e interessantes. Na maioria das vezes, um dos parceiros precisa de ficar em casa ou a família precisa de se envolver. Nós não temos esse apoio aqui, mas agora somos os chefes de nós mesmos e podemos organizar nossas vidas.

Consegues descrever um dia típico de trabalho?

Deixamos as crianças no jardim de infância às 9h e depois vamos para Lisboa para vender até às 4 da tarde, a menos que um de nós vá para o Algarve ou Porto, por exemplo ... no nosso caminho ou entre as conversas de vendas, telefonemas, resolução de problemas de produção ou logística, criar material de marketing, criar conteúdos para as redes sociais, trabalhar na estratégia... Ou seja, não comemos um almoço de verdade - trabalhamos, trabalhamos, trabalhamos e quando voltamos para a Ericeira, fazemos algumas chamadas de novo, e das 17h às 20h ou 21h, tentamos não falar de trabalho, porque nós quero estar presente para as nossas filhas. É claro que às vezes é difícil, já que coisas novas acontecem constantemente. E então, das 21 à meia noite, trabalhamos. Esta é a vida que temos de momento. Infelizmente, precisamos dessas noites, não podemos escapar delas.

O que eu mencionei antes, aquela coisa de olhar para ti mesmo no espelho e dizer “isto é bom para mim, eu sou feliz”, eu não me conseguiria olhar para o espelho se as minhas filhas ficassem infelizes. Mas elas adoram viver aqui. Então a nossa felicidade aqui força-me a tentar fazer isto tudo funcionar.

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