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Ricardo Santos CEO Heptasense

Ricardo Santos

Co-fundador e CEO da

Heptasense

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Behind Business - Actualmente há uma tendência fenomenal sobre o empreendedorismo, de tal forma que pode ser percebido como um percurso profissional glamoroso, visto de fora. Achas que há um certo glamour em ser empreendedor?

 

Ricardo - Uma das razões que leva alguém a querer ter o seu próprio negócio é ser independente e com isso fazer algum dinheiro. Mas à medida que o negócio vai evoluindo, esses valores mudam completamente. Ficamos mais maduros em relação às nossas motivações. Primeiro descobre-se que é impossível ficar rico rapidamente; depois, nunca se é realmente independente, porque começamos a colocar os interesses dos nossos colaboradores, e de investidores se existirem, à frente dos nossos. Até as preocupações destes, a nível pessoal, passam também a ter importância, tais como questões do casamento, filhos, dívidas, etc. É preciso garantir que os nossos colaboradores estão bem e só depois é que eu vou poder pensar em mim. Até chegar ao ponto que a empresa começa a dar estabilidade financeira e psicológica aos fundadores, é um processo que pode demorar muito mais tempo do que se julga. É um misto de saber gerir dinheiro, pessoas e expectativas. A Heptasense é a minha segunda tentativa de tentar criar um negócio, pois a primeira não resultou.

O que te tem inspirado para seres empreendedor, já que estás a tentar pela segunda vez?

Aprendi muito ao ser empreendedor, porque ao trabalhar para outra pessoa segue-se muito à risca uma estrutura já desenvolvida e otimizada. Como empreendedores aprendemos a “desenrascar-nos”, e aprendemos o valor da comunicação com outras pessoas. Basicamente, aprendemos como o mundo funciona ao perceber como as pessoas funcionam. É um valor tão grande que mesmo que a Heptasense fechasse e tivesse de recomeçar do zero, os fundadores sairiam com uma experiência de vida e conhecimento único. Por exemplo, apesar da minha startup anterior ter falhado, tive a oportunidade de estar nos EUA, conhecer outras empresas, outras pessoas e culturas. Nesse contexto, apercebi-me que é possível atingirmos os nossos objetivos se estivermos rodeados das pessoas certas.

Como chegaste até aqui?

Eu sempre fui bom aluno e uma pessoa criativa. Ao ponto que quando ainda estava a acabar a licenciatura, tive uma proposta, de uma das melhores universidades do mundo, no Reino Unido, para fazer o doutoramento lá, saltando o mestrado. Eu recusei porque antes disso, eu e mais três amigos tínhamos idealizado um produto, na qual pelo “gozo” inscrevemo-nos num concurso da Vodafone com esse projecto, e... ganhámos! E comecei a pensar “Epah, espera lá, que criar uma empresa deve ser mais giro que fazer uma carreira em investigação.” Claro que na altura sonhamos sempre bastante e pensamos “A Vodafone vai comprar isto e vamos ficar ricos!”. Claro que nada disso aconteceu. Convidaram-nos para nos juntarmos à aceleradora da Vodafone e apoiaram-nos em mentoria no desenvolvimento do projeto. Nesse mesmo ano também ganhámos o maior concurso em Portugal de empreendedorismo, o BES Inovação. Com o prémio monetário fomos para os Estados Unidos enquanto todos fazíamos a tese de mestrado. Infelizmente não conseguimos implementar o projeto e a equipa separou-se. Alguns meses mais tarde, juntei-me com o Mauro e fundamos a Heptasense.

O que é que te inspira para continuares a sorrir dia após dia?

Acho que é termos um objectivo que pode mudar as vidas das pessoas, tanto a nossa como a dos outros. Por vezes um empreendedor sabe que está a desenvolver algo que vai vender bem, mas em que o mundo pode ser prejudicado por esse produto. No nosso caso, a tecnologia para câmaras de segurança da Heptasense não identifica pessoas, porque a nível pessoal eu não me quero imaginar a entrar num sítio e ser reconhecido, quero privacidade no dia-a-dia. Tem de trazer benefício para a sociedade, sem contrapartidas. Quero melhorar o mundo, é isto que me faz acordar e ter vontade de continuar.

Qual é o impacto que esperas alcançar no mundo com os teus projectos?

Sem dúvida que não é parar com o que temos agora. Procuro tornar-me influente na área em que atuo (segurança) mas ser muito ativo no projetos que partilham dos valores que acredito. Além da Heptasense, estou envolvido num projecto social que se chama 'No Bully Portugal', que aplica técnicas inovadoras para acabar com o bullying nas escolas. Mesmo sendo empresas totalmente diferentes, conhecem-se imensas pessoas que podem ajudar em ambas, tornando mais fácil concretizar qualquer objectivo a nível pessoal, profissional e social.

"Tem (a Heptasense) de trazer benefício para a sociedade, sem contrapartidas. Quero melhorar o mundo, é isto que me faz acordar e ter vontade de continuar."

Qual foi a decisão mais corajosa que já fizeste na tua vida?

Já houve algumas peripécias menos boas. Quando estava na startup anterior ainda era investigador na faculdade, e por envolvi-me num processo legal com a própria faculdade por causa da propriedade intelectual, mesmo tendo provado que a da startup não era a mesma da investigação. De maneira nenhuma que desisti e consegui ficar com a propriedade intelectual. Decorrente desse processo, tive de sair da faculdade porque houve até professores que não me queriam dar aulas. Foi problemático. Gastei milhares de euros em advogados. Penso que foi a ação mais corajosa que fiz enquanto empreendedor: eu era um dos melhores alunos da faculdade e estava disposto a abdicar isso para realizar o um sonho.

O Sir Richard Branson, na sua autobiografia, refere que dormia na sua loja de discos que naquela altura era o ínicio da Virgin.

Percebo-o perfeitamente. Eu ainda hoje não me importo de passar a noite em aeroportos em vez de gastar €100 num hotel pago pela empresa. Viajo com muita regularidade e esse dinheiro pode muito bem ser usado para benefício da empresa nesta fase de forte crescimento. Aproveito essas noites para colocar o trabalho em dia ou explorar os meus projetos pessoais.

Como é que encontraste o teu co-fundador e a tua equipa?

Eu tinha acabado de vir da América, por causa da outra startup, sem dinheiro nem projeto. Estava a tentar fazer a primeira versão da Heptasense sozinho e como era muito trabalho para uma pessoa só, convidei o Mauro a juntar-se a mim, que era o meu colega numa cadeira de empreendedorismo da faculdade. Disse-lhe “E se nos juntássemos, porque eu não vou conseguir fazer isto sozinho? Tu tens conhecimentos que complementam os meus”. E assim foi. Desenvolvemos uma primeira versão do produto, com a visão dos dois, em que o nosso primeiro cliente foi a BMW, com um piloto pago. Com esse dinheiro contratámos os primeiros colaboradores e abrimos escritório em Lisboa, o que possibilitou fazer a primeira versão finalizada do software. Agora a equipa continua a crescer, e com clientes de peso em vários países da Europa.

Achas fácil encontrar co-fundadores?

No meu caso foi fácil, pois ocorreu naturalmente: eu e o Mauro já tínhamos trabalhado em projetos durante a faculdade. Mas no geral é muito difícil, aliás os fundadores são a principal causa para o fracasso/sucesso de uma empresa. Na altura, o Mauro estava a trabalhar num banco e depois saiu para criarmos a Heptasense oficialmente. Eu e o Mauro somos duas pessoas muito diferentes, mas não a nível profissional e de visão, e é aí que nos cruzamos bem. Temos os dois igual percentagem da empresa, na qual cada um é responsável por decisões distintas.  

 

Como é que geres a incerteza?

 

Confiando um no outro e no que temos. Tanto eu como o Mauro temos de tomar decisões, mas em áreas diferentes; ele foca-se no produto e eu na empresa propriamente dita. A verdade é que por vezes não há uma resposta certa, mesmo com muita discussão. Se tudo tivesse já uma resposta, outras pessoas já estariam a fazer por nós. Mas isto também é a beleza de ter uma startup, porque é a resolução de incertezas que geram o sucesso, ou os chamados cisnes negros, que são aquelas situações que ninguém está à espera e que depois se tornam grandiosas.  

 

O que é mais difícil de gerir: o tempo, as pessoas e o dinheiro?

 

Estão as três muito interligadas, mas talvez seja o tempo. Uma startup se for bem posicionada no mercado, no início, tem tantas oportunidades que não sabe para onde se há-de virar. Às vezes queremos atacar todas as oportunidades, diria que por ambição, porque essas dariam um melhor retorno a curto-prazo, mas depois ficamos com um problema de tempo, trazendo pouco benefício a longo-prazo, refletindo posteriormente na gestão das pessoas.

Como é que consegues gerir a tua vida e mentalidade de empreendedor com a tua família e amigos que por vezes podem não perceber as dificuldades os desafios que daí advêm?

É muito importante que as pessoas que nos rodeiam estejam connosco nisto. Os meus pais apoiam-me bastante mostrando ter orgulho no que vou conquistando. Sempre coloquei a família em primeiro plano. Primeiro a família (incluindo namorada), depois os colaboradores e só depois a minha vida pessoal. Por exemplo, se há algum compromisso com a família, isso será prioritário, nem que depois passe a noite toda a trabalhar para compensar. Basta ter o apoio deles e tudo corre melhor. No entanto, é muito importante ter vida pessoal, senão não se consegue. É importante fazer desporto, por exemplo. O meu ex-professor de Karate disse-me uma vez “Se tiveres que pedir ajuda a alguém, pede a alguém muito ocupado porque irá arranjar sempre tempo para ti”. E é verdade! Se nós decidirmos colocarmos uma hora do nosso dia para algo que gostamos, automaticamente vamos conseguir organizar-nos em torno dessa hora. Decidimos que aquela hora é nossa e que não a podemos mudar.

Como é que tu defines sucesso?

É ser-se feliz, no fundo. Acho que há dois tipos de “sucesso”: um é o sucesso de “como é que as pessoas te vêem” e outro é “como é que tu te sentes”. Nesta nova geração de redes sociais, as pessoas apostam muito no primeiro, quase como um “fake until you make it”. Como as outras pessoas nos vêem influência como nos sentimos, embora acabe por ser superficial e não traga a verdadeira felicidade.


É aquela coisa do “nós queremos ser vistos como os outros nos querem ver”.

 

Sim, exactamente. Nunca estamos satisfeitos por não valorizamos os meios, apenas os fins. Mas cada vez mais começa-se a dar valor à forma de como as pessoas atingem os seus objetivos, em vez de só olhar para o resultado final. E ainda bem, pois é aí que estão as verdadeiras lições de vida.

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